"Velho demais para suportar o peso das mentiras constantes
que encobrem polidamente as desilusões"
E O Vento Levou...
Sabe
quando você sente que faltam menos de cinco páginas para acabar um
livro e daí vem um medo danado? Porque simplesmente você não está
preparado para dizer adeus? E quando este adeus vem com um sabor de até
logo?
Assim
é “E o vento Levou”, uma história longa, uma narrativa tão fiel aos
acontecimentos históricos que te ensinam mais que qualquer aula de
cursinho. A autora soube dar tanta vida e sentimento às personagens que
eu me surpreendi a ser empaticamente seduzida pelos sulistas na guerra
da secessão. E para aqueles que não estão familiarizados com a história,
trata-se da abolição dos escravos nos Estados Unidos e os sulistas era
escravocratas!
Não
que a escravidão ou segregação de raças seja algo aceitável, jamais!
Mas ao narrar o fim de uma era dourada para os ricos plantadores do sul,
para as doces donzelas e sinhazinhas a autora soube vender toda a dor
de quem viu o mundo ruir diante dos seus olhos.
Scarlet,
a heroína (?) é uma dessas donzelas, que criada para ser uma grande
dama, educada para frequentar os melhores salões, de uma hora para outra
precisou aprender a conviver com a fome, com o frio e a desolação.
Ao
contrário das heroínas tradicionais de romance, que são quase mártires,
Scarlet é... Real. Talvez realista demais, dura demais para a época.
Achei muito feliz e refrescante a idéia de colocar como personagem
principal alguém tão humano, tão próximo do que somos nós: egoístas.
Scarlet,
ao contrário das abnegadas damas sulistas sobreviventes da guerra, não
batia palmas para os soldados derrotados, ou para uma guerra inútil. Ela
via com seus olhos práticos e pouco patrióticos como isso afetava sua
vida, seu conforto e seu futuro. Não coube no papel que a sociedade
destinava às mulheres da época: mulheres dignas, tímidas e silenciosas.
Ela
tirou lutos antes do tempo, abriu negócios, foi comerciante,
fazendeira, chefe de família. Jurou jamais passar fome novamente e
trilhou seu caminho para que isso acontecesse, às vezes magoando
pessoas, às vezes negligenciando os filhos. Jurou que humilharia todos
quanto a humilharam e assim foi.
Uma heroína odiada.
Exceto
por ele. Rhett Butler. Uma constante na vida, um homem misterioso, um
patife. Tão pouco cavalheiro e tradicional, que somente ele poderia ver a
força motriz que era Scarlet O’hara. E admirá-la e desejá-la.
Um
grande amor, nascido em tempos difíceis, não declarado, incubado por
sentimentos humanos mais dominantes que o amor em si, como orgulho, como
ódio, como teimosia.
Um final. Com reticências...
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