sábado, 2 de novembro de 2013

Scarlett O'Hara , e o vestido verde feito de cortina



"Velho demais para suportar o peso das mentiras constantes 
que encobrem polidamente as desilusões"
E O Vento Levou...

Sabe quando você sente que faltam menos de cinco páginas para acabar um livro e daí vem um medo danado? Porque simplesmente você não está preparado para dizer adeus? E quando este adeus vem com um sabor de até logo?

Assim é “E o vento Levou”, uma história longa, uma narrativa tão fiel aos acontecimentos históricos que te ensinam mais que qualquer aula de cursinho. A autora soube dar tanta vida e sentimento às personagens que eu me surpreendi a ser empaticamente seduzida pelos sulistas na guerra da secessão. E para aqueles que não estão familiarizados com a história, trata-se da abolição dos escravos nos Estados Unidos e os sulistas era escravocratas!

Não que a escravidão ou segregação de raças seja algo aceitável, jamais! Mas ao narrar o fim de uma era dourada para os ricos plantadores do sul, para as doces donzelas e sinhazinhas a autora soube vender toda a dor de quem viu o mundo ruir diante dos seus olhos.

Scarlet, a heroína (?) é uma dessas donzelas, que criada para ser uma grande dama, educada para frequentar os melhores salões, de uma hora para outra precisou aprender a conviver com a fome, com o frio e a desolação.

Ao contrário das heroínas tradicionais de romance, que são quase mártires, Scarlet é... Real. Talvez realista demais, dura demais para a época. Achei muito feliz e refrescante a idéia de colocar como personagem principal alguém tão humano, tão próximo do que somos nós: egoístas.

Scarlet, ao contrário das abnegadas damas sulistas sobreviventes da guerra, não batia palmas para os soldados derrotados, ou para uma guerra inútil. Ela via com seus olhos práticos e pouco patrióticos como isso afetava sua vida, seu conforto e seu futuro. Não coube no papel que a sociedade destinava às mulheres da época: mulheres dignas, tímidas e silenciosas.
Ela tirou lutos antes do tempo, abriu negócios, foi comerciante, fazendeira, chefe de família. Jurou jamais passar fome novamente e trilhou seu caminho para que isso acontecesse, às vezes magoando pessoas, às vezes negligenciando os filhos. Jurou que humilharia todos quanto a humilharam e assim foi.

Uma heroína odiada.

Exceto por ele. Rhett Butler. Uma constante na vida, um homem misterioso, um patife. Tão pouco cavalheiro e tradicional, que somente ele poderia ver a força motriz que era Scarlet O’hara. E admirá-la e desejá-la.

Um grande amor, nascido em tempos difíceis, não declarado, incubado por sentimentos humanos mais dominantes que o amor em si, como orgulho, como ódio, como teimosia.

Um final. Com reticências...


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